8 Problemas na gravidez que podem afetar sua boca e seu bebê: Como resolvê-los ou previní-los?
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8 Problemas na gravidez que podem afetar sua boca e seu bebê: Como resolvê-los ou previní-los?

  • Foto do escritor: Dr Maico Dutra
    Dr Maico Dutra
  • 11 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2021


8 problemas bucais na gravidez e suas consequencias para a gestante e para o bebê. Como evitar partos prematuros, bebes com baixo peso e pré eclâmpsia
Problemas bucais na gravidez

Mas afinal, que problemas são esses?


1. Aumento dos hormônios progesterona e estrógeno.

2. Episódios de vômitos frequentes e ânsia ao escovar os dentes.

3. Limitações físicas.

4. “Desejos” e mudanças na alimentação.

5. Granuloma gravídico ou tumor gravídico.

6. Boca seca na gravidez (xerostomia).

7. Desinformação da grávida.

8. Descuido dos dentistas e equipe médica.

OBS: Grávidas podem e devem ser tratadas em qualquer fase da gestação.

1. Aumento dos hormônios progesterona e estrógeno.

Esses dois hormônios aumentados (segundo trimestre em diante e reduz no último mês) geram:

  • Queda de neutrófilo (célula de defesa) e da imunidade

  • Maior vascularização e sangramento gengival

  • Diminuição da queratinização e desorganização da deposição e formação de colágeno.

  • Aumento da secreção de fluido gengival.

  • Ou seja, ele deixa a gengiva e os vasos sanguíneos com muito sangramento e com baixo poder de cicatrização.

  • A gengiva perde a função de proteção e barreira física.

  • A placa bacteriana formada fica com mais bactérias gram negativas (mais agressivas).

  • Ocorre também maior deficiência de ácido fólico (pois estes vão para o feto) prejudicando a cicatrização e aumentando as destruições teciduais causadas pela inflamação.

  • Por isso, 60 a 75% das grávidas apresentam problemas periodontais (sangramentos) com aumento do acúmulo de placas bacterianas.

Essa nova condição pode ser controlada com higiene oral adequada e limpeza profissional (dentista). Escovação e uso de fio dental todos os dias e pelo menos uma visita ao dentista para o pré natal odontológico. Em alguns casos associa-se à higiene oral, o uso de enxaguantes bucais.

2. Episódios de vômitos frequentes e ânsia ao escovar os dentes.

  • Os vômitos, geralmente até o primeiro trimestre, são muito frequentes. Gerando uma grande acidez, devido ao ácido gástrico, na boca. Além dos vômitos, é muito comum as grávidas apresentarem ânsia, impedindo-as de realizarem uma higienização adequada.

  • Até 2% das grávidas podem apresentar hiperêmese gravídica, vomitando exageradamente, sendo internadas em muitos casos.

  • O aumenta a acidez da boca e dificuldade de escovação, favorece a desmineralização generalizada do esmalte dental e/ou surgimento de cáries dentárias que podem evoluir para abscessos e infecções mais severas.

Importante em casos de vômito:

  • Fazer bochechos com água e bicarbonato de sódio e/ou enxaguantes com flúor.

  • Escovar os dentes depois de 30 minutos, pois o esmalte está fragilizado (por 30min) por causa do ácido gástrico.

  • Mascar chiclete de xilitol 3 a 4x ao dia por 5 minutos (veja vídeo sobre cárie), pois o xilitol é um açúcar que não é absorvido pelas bactérias da cárie.

  • Para ânsia, preconizamos escovação sem pasta se preciso for.

3. Limitações físicas.

A fase ideal de atendimento das grávidas é no segundo trimestre, pois os órgãos do bebê já estão formados, a gestante encontra-se mais bem disposta, ainda não apresenta grande incômodo na barriga e nem dificuldade de locomoção. No terceiro trimestre o aumento dos mediadores inflamatórios ou da adrenalina podem desencadear o trabalho de parto.

Caso a gestante esteja na posição supina, pode ocorrer a compressão, pelo útero, da veia cava, prejudicando o retorno venoso. Gerando hipotensão, vertigem, náusea e vômito. Isso ocorre em 20% das grávidas. Logo, evita-se essa posição, exigindo mais do dentista.

Tratamentos eletivos devem ser adiados, porém, tratamentos que podem evoluir mal, que podem piorar a saúde bucal, devem ser realizados.

Qualquer tratamento pode ser realizado em qualquer etapa da gravidez, obviamente, avaliando os riscos e consequências futuras.

4. “Desejos” e mudanças na alimentação.

Muitas grávidas aumentam a frequência e quantidade de carboidratos, devido aos desejos e sensação de fome. O aumento na quantidade e fermentação dos açúcares e favorece o aparecimento de cáries, que podem evoluir para problemas mais graves (VIDEO DE CARIE).

Deve-se diminuir a frequência de ingestão de carboidratos, com uma dieta mais saudável, escovação e fio dental. Em casos de cárie, procurar um dentista urgentemente para que isso não evolua e prejudique seus dentes, sua saúde bucal, geral e sua gestação.

Mascar chiclete de xilitol 3 a 4x ao dia por 5 minutos (veja vídeo sobre cárie), pois o xilitol é um açúcar que não é absorvido pelas bactérias da cárie.

5. Granuloma gravídico ou tumor gravídico.

Devido ao aumento da progesterona e estrógeno, diminuição da absorção de ácido fólico, qualquer alteração gengival é muito importante. O tumor gravídico é benigno e é uma resposta inflamatória dos tecidos gengivais a irritação causada por placa bacteriana, restaurações mal adaptadas, tártaro. Ocorre a formação de um “tumor” podendo chegar a 2 cm, altamente vascularizado e sangrante de cor azul arroxeada. Ocorre geralmente no segundo trimestre e acomete 10% das grávidas.

O tratamento consiste em escovação, fio dental, limpeza profissional, remoção do agente agressor e em alguns casos remoção cirúrgica.

6. Boca seca na gravidez (xerostomia).

Muito comum no último trimestre a diminuição do fluxo salivar (xerostomia), com a secura da boca. A diminuição do fluxo salivar leva a menor capacidade do organismo de combater a cárie dental. Já que a saliva remineraliza os dentes quando esses são “agredidos” pelos ácidos decorrentes da fermentação dos carboidratos pelas bactérias da boca. Ou seja, a saliva, que combate a acidez, está em falta nos pacientes que apresentam boca seca.

Nesses casos o dentista pode receitar saliva artificial, dieta menos cariogênica, com menos carboidrato, escovação, fio dental, enxaguantes bucais (Veja meu vídeo sobre enxaguantes).

7. Desinformação da grávida.

Apesar de todas essas alterações de gengivite, periodontite, aumento de placa bacteriana, dificuldade de cicatrização, granuloma ou tumor gravídico, aumento de bactérias gram negativas, seguem alguns dados interessantes:

  • Somente 23-35% das gestantes vão ao dentista durante a gestação (USA).

  • 50% das grávidas acham normal ter cáries durante a gravidez, pois acreditam que perdem minerais dos seus dentes para o bebê em formação.

  • 50% das grávidas com dor de dente não vão ao dentista.

há relação entre doenças bucais e Partos prematuros (antes de 37 semanas), bebês nascidos com baixo peso (<2.500g) e pré Eclâmpsia (hipertensão e proteinúria).

8. Descuido dos dentistas e equipe médica.

Há muita desinformação e descuido por parte dos dentistas que muitas vezes tomam decisões equivocadas a respeito do tratamento bucal das gestantes ou mesmo se recusam a tratá-las.

· 10% dos dentistas se recusaram a tratar uma paciente grávida (talvez seja maior)

· 100% dos dentistas apresentaram alguma dúvida sobre atendimento às gestantes.

· 50% dos dentistas apresentavam dúvidas sobre a utilização do raio x e não realizam radiografias na gravidez.

· 40% das grávidas são avisadas pelos seus obstetras que devem procurar um dentista para verificar sua saúde bucal.

Dentistas apresentam dúvidas sobre anestesia, radiografias, prescrições medicamentosas, suplementação com flúor e procedimentos que podem ou não ser realizados (farei um texto e só sobre isso).

Os dentistas que se recusam atender grávidas, parecem não se atentarem para o fato de que a falta de tratamento pode gerar partos prematuros, pré eclâmpsia e bebês com baixo peso.



Conclusões:


Inúmeros problemas podem ocorrer durante a gestação e podem trazer consequências para a gestante e para o bebê.

  • Há correlação entre doença periodontal, partos prematuros, pré-eclampsia e bebês com baixo peso.

  • Falta muita informação para as gestantes tanto por parte da equipe médica como pelos próprios dentistas.

  • Tem que haver maior comunicação entre a equipe médica e os dentistas.

  • Medidas individuais por parte das grávidas já resolveriam grande parte dos problemas, sendo elas:

  • Escovação 4x ao dia com escovas macias.

  • Uso de fio dental todos os dias.

  • Em caso de vômito, bochechos com bicarbonato ou enxaguantes com flúor. Além de esperar 30min para escovar os dentes.

  • Uso de chicletes com xilitol para reduzir as bactérias da cárie (difícil encontrar no Brasil).

  • Visitar um Dentista pelo menos uma ou duas vezes durante a gravidez para que ele realize um bom tratamento pré natal.

Qualquer problema bucal pode e DEVE ser tratado durante a gravidez. O que é melhor, ficar com uma infecção que pode progredir e generalizar ou realizar o tratamento odontológico?

E você, tem alguma dúvida sobre a gravidez e tratamentos odontológicos? Passou por algumas dessas situações descritas acima? Deixe seu comentário, terei o maior prazer em responder.


Referências Bibliográficas:

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